O cancro a alastrar
Para evitar a crise, o financiamento da economia, o desemprego e as «medidas de austeridade», a classe política tem uma solução, a velha receita da produtividade. Só existe o factor económico: refinaria, betão, eucaliptos ou turismo. Fora disso nada é sério. E tudo tem de se identificar com os desígnios da Economia. Por efeito, toda a classe política sem excepção se une aos grupos empresariais a fim de relançar projectos de obras públicas, por exemplo, o TGV, auto-estradas, aeroportos, etc. Diante da «necessidade» de desenvolver e produzir estragos renováveis, toda a classe política se mete de acordo. A antiga crença em deus e no inferno, foi hoje substituída por novos deuses: os produtos de todos os tamanhos e feitios e o petróleo, respectivamente. E o Homem enche-se de razões. É preciso produzir para viver mas também para dar um sentido à vida, de outra maneira a vida seria absurda e a sociedade (ou instituição estatal) ameaçada. Assim munidos, a classe política moderna e com ela, por via da propaganda e da violência, muita boa gente, encontram na produtividade, logo no desenvolvimento, a saúde e a tranquilidade que, antigamente, só se obtinha na estrita e cega obediência a Deus.
O desenvolvimento do cancro, cada ano a crescer e a matar mais pessoas em Portugal e no mundo, é proporcional à taxa de industrialização a qual é considerada um factor de desenvolvimento. Os recursos de água contaminados por pesticidas, hectares e hectares de solos empobrecidos pela plantação contínua de eucaliptos ou destruídos pelo progresso do betão, a alimentação industrial standardizada, a poluição do ar, o stress do trabalho versus desemprego…
Pese embora tudo isso, os dirigentes políticos de todos os quadrantes consideram que a velhinha Produtividade é a solução para Portugal e para o mundo. Ainda e sempre o cancro a alastrar.