Sem Futuro?

2 de Maio de 2015
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Ao folhear uma revista europeia encontrei uns «inquéritos de opinião». A conclusão geral desses inquéritos é que as pessoas, perante um futuro que lhes surge caótico, afirmam-se cada vez mais pessimistas e desamparadas por esta evolução que, no seu âmago, não foi por elas escolhida. A aguardar uma insurreição que não vem, aumenta o consumo de anti-depressivos, ansiolíticos, etc.

Tudo indica que as pessoas se encontram resignadas a um declínio irremediável. Certo, se olharmos um pouco, damos conta que existem pessoas que não se dão por vencidas, algumas minorias metem-se a cultivar a terra, a debater, a imaginar formas de vida associativa fora da lógica habitual do mercado. Mas, estamos longe de anunciar a deserção do complexo estatal-económico-industrial. O industrialismo, que está na origem da destruição da biosfera, passou à próxima etapa: a gestão mercantil dos estragos, com os regimentos de especialistas que se oferecem para administrar o gado humano, com novos progressos técnicos que estendem a artificialização. E, é este espalhamento constante, sem questionamentos, que vai construindo o estado caótico do mundo. A política, a economia, à esquerda e à direita, seguem-no. Constantemente surpreendidos por mais um estrago que, mais uma vez, os transbordará.

Porém, deste caos não surge necessariamente uma tomada de consciência salvadora. A pedagogia não vem da derrocada, mas necessita de arregaçar as mangas, associar-se, reencontrar-se, discutir, ler, propor, fazer. Saírmos da nossa passividade mortífera. Temos de nos tornar indivíduos de pé e não (sobre)viver de joelhos enquanto produtores-consumidores, dar sentido às nossas existências, fazer prevalecer a autenticidade do nosso ser, pôr em prática a partilha… . Estamos muito longe de tal passo colectivo. Embora pessimistas, estamos obcecados pela religião do crescimento destrutivo, ainda consideramos o homem como o ser superior ao seu meio, o planeta como um reservatório inesgotável. A crença no progresso técnico infinito, num futuro radioso, a modelar toda a nossa maneira de viver, de ser, de pensar, a nossa identidade, os nossos valores, as nossas representações, os nossos sonhos demiúrgicos. Não vislumbramos o cortejo fúnebre da falsa abundância. Por agora, optamos por o negar. E, toda a dissidência é denunciada como heresia. Muito negativa. Bastante desestabilizadora. Colocar em causa o mundo imposto é doloroso. As pulsões de vida irão por fim ganhar alento? A resistência irá surgir do marasmo?

 

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