Introdução a uma crítica radical do turismo
Texto e fotos de P. Duarte
Nota ao leitor: este texto retoma e aprofunda a abordagem ao turismo que, numa série ainda incompleta de textos, tem vindo a ser desenvolvida no blog obeissancemorte.wordpress.com
“Todos somos turistas”, rejubilava recentemente um jornalista nas páginas do jornal Público. “Mesmo os que não se sentem forçosamente identificados com aquilo a que chamamos turismo”, acrescentava o mesmo jornalista num artigo (1) em que, seguindo a mesma linha de raciocínio, o seu entrevistado rematava com a autoridade de um expert: “o turismo não pode ser eliminado, é qualquer coisa à qual nos temos de adaptar”. Um pouco por toda a parte, o turismo é-nos apresentado como uma inevitabilidade dos tempos modernos com a qual todas as comunidades do planeta terão forçosamente de aprender a conviver.
1. O que é o turismo?
No discurso político e mediático, é habitual associar-se o fenómeno turístico ao facto de as pessoas viajarem de uns sítios para os outros, independentemente das práticas concretas que tenham lá onde viajam. Instalou-se assim no senso comum a ideia de que viajar e fazer turismo seriam sinónimos. No entanto, será que o facto de sairmos por um tempo do nosso mundo para mergulharmos na rotina de outro mundo faz por si só de nós turistas?
A imersão num outro mundo que o viajar pode proporcionar não significa forçosamente que se esteja a alimentar a indústria capitalista do turismo, a qual se baseia na venda de mercadorias e serviços. Quem já experimentou essa imersão sabe que ela marca profundamente: quando no final regressamos ao nosso mundo, vimos enriquecidos de novos saberes e perspectivas para contrastar e transformar o quotidiano.
Poderíamos começar então por definir o turismo como a indústria que manipula as materialidades de que é composto o território para aí fabricar imagens e experiências vendáveis àqueles que viajam. Actividade económica que dirige a sua oferta a um público que não pertence ao lugar onde se encontra, o turismo opera numa capa superficial do território para impor a esse público as materialidades por si forjadas, que integra numa rede coerente e homogénea de equivalências. Lugares, paisagens, monumentos, arquitecturas, museus, identidades, tradições, gastronomias, etc., são assim ora ‘recuperados’, ora inventados de raiz, para se criar uma ampla oferta de mercadorias equivalentes, niveladas pela sua capacidade para atrair e seduzir aqueles que viajam. Desta perspectiva, poderíamos concluir que o turismo não é assim mais do que o modo de viajar que é próprio do capitalismo.
Quanto ao turista, trata-se de todo aquele que, quando visita um determinado território, reduz o imenso potencial da sua viagem a um conjunto de experiências circunscritas a essa capa superficial onde os operadores turísticos lhe vendem os seus produtos. O turista é assim aquele que entende a viagem como o produto dos serviços e das mercadorias que, no decurso da mesma, lhe vão sendo gradualmente disponibilizados. É neste sentido que, ao limitar o seu contacto com o território à relação com essa camada superficial fabricada pelo turismo, ele se distingue de todos aqueles que na sua viagem estão habilitados a ir além da cintilante e lucrativa superfície onde operam os agentes turísticos. Ao contrário destes viajantes, quando se confronta passivamente com o território que visita, o turista não dispensa a mediação mercantil. O capital é por isso inerente ao seu modo de viajar.
Logo, fora do capitalismo não existe turismo. Por exemplo, uma tribo nómada que se desloca pelo território desconhece o turismo. Tal como o simples amante de um lugar distante, que a ele decide regressar uma e outra vez, motivado pelo forte vínculo que a ele o une. Nestes dois exemplos, a viagem opõe-se frontalmente ao turismo. Em ambos os casos, a relação passiva com o território que é própria do turismo dá lugar a uma apropriação activa do mesmo – ao qual sempre se retorna e no qual se penetra a um nível mais profundo do que aquele em que os operadores turísticos fazem proliferar os seus negócios. Mas esta imersão radical noutros mundos está hoje em vias de extinção. Porque o turismo se tornou hegemónico na mediação do viajar, que assim se converte numa actividade cada dia mais trivial, passiva, repetitiva; e cada dia também mais parecida com o rotineiro passeio de fim de semana pelo interior colorido e previsível do shopping mais próximo.
2. Unidade e equivalência na diversidade
Para tornar vendáveis, em atractivos pacotes, museus, igrejas, bares, praias ou celebridades (como escritores, pintores, cientistas ou futebolistas), o turismo unifica toda a sua oferta. Deste modo, torna equivalente e complementar o que é essencialmente diferente, único, incomparável. É assim que numa lógica de experiência turística tem cabimento incluir-se num mesmo roteiro por Lisboa o Mosteiro dos Jerónimos, dois ou três miradouros, as casas onde viveram Amália e Pessoa, o bairro de Alfama, o Castelo de São Jorge, uma casa de fados e até o Museu do Benfica. Somente o turismo possui esse dom de tornar equivalente e complementar lugares radicalmente díspares que requerem contextualizações próprias.
Fábrica universal de equivalências, o turismo manipula a matéria com que fabrica as suas mercadorias de modo a torná-las universais. O que seria interpretável apenas à luz de códigos locais torna-se descodificável pelo uso de um código universal, o qual qualquer turista, independentemente do seu background cultural, poderá doravante aplicar em qualquer lugar para interpretar não importa o quê. Pouco interessa se está a visitar uma favela no Rio ou em Bombaim, uma catedral em Colónia ou em Paris, uma loja de artesanato em Marraqueche ou em Pequim, a casa de um pintor em Florença ou em Amesterdão, o turista busca sempre ingredientes como a grandiosidade, a espectacularidade, o exotismo e o pitoresco, os quais cada vez mais frequentemente se complementam com condimentos de uma outra ordem, mais ligada ao que poderíamos chamar a componente subjectiva da experiência turística, como são o bem-estar, a aventura e a emoção.
E é precisamente deste conjunto solidário de ingredientes que deriva a nova semântica que, no seu estádio turístico, o território adquire, tornando obsoletos os velhos significados que as populações locais lhe costumavam atribuir. Daí a legitimidade do seguinte enunciado, com vastas repercussões semióticas: o turismo é já em si mesmo uma recontextualização do mundo sensível que dispensa todas as contextualizações até aí existentes. Ele apresenta-nos por isso um mundo novo para um homem novo.
3. Simulacros de autenticidade
As versões mercantilizáveis que, para atrair consumidores, o turismo cria lá onde opera falsificam os mundos que elas supostamente representam. Enquanto exploração económica dessas versões – ou, se preferirmos, desses pseudomundos -, o turismo instrumentaliza e adultera uma parte do território para aí fabricar imagens estandardizadas que se consomem com reduzido esforço intelectual. Apesar de serem geralmente apresentadas como estando ligadas aos usos e costumes tradicionais de diversas populações, essas imagens raramente são mais do que simulacros de autenticidade. É assim que um pouco por toda a parte se reinventam, no sentido de tornar facilmente comunicáveis aos turistas, centros históricos, gastronomias regionais, artes populares ou arquitecturas antigas. O ‘autêntico’, que os pacotes ou guias turísticos frequentemente anunciam ao consumidor, é uma das ficções mais em voga no universo turístico.
Por outro lado, no interior dos pseudomundos que os turistas visitam e fotografam, ninguém tem histórias pessoais, vinculadas a biografias verdadeiras, para contar. Esses mundos falsificados não são habitados por um único ser que neles construa a sua vida: empregados de lojas e restaurantes, recepcionistas, motoristas, vendedores, cozinheiros, falsos artífices, seguranças privados, polícias e guias profissionais apenas desempenham a sua função profissional para viabilizar o consumo turístico do território. Mas, terminado o seu turno, cada um destes assalariados regressa ao seu lar, onde estão os mundos autênticos que o turista jamais descobre porque aí não há espectáculos fabricados para serem consumidos – se entrasse por via da amizade, ele não seria um turista que é por definição um consumidor. O turista nunca chega a entrar senão num pseudomundo construído e habitado por vendedores profissionais de qualquer coisa, criadores de cenários exclusivamente modelados para serem consumidos.
4. Imagens autonomizadas
Para tornarem vendável o leque de serviços e mercadorias com que estruturam a sua oferta, os promotores da indústria turística operam modificações estratégicas no tecido do território. Estas modificações formatam o território de acordo com as exigências do paladar turístico. Produzem assim transformações profundas tanto no património histórico, como nas paisagens ou arquitecturas que marcam a cultura e a identidade das comunidades a que estão vinculadas. Tais transformações possuem naturalmente inúmeros efeitos colaterais sobre os quais, porém, raramente se considera relevante discutir.
O efeito mais dramático é o estabelecimento de uma ruptura entre o território e os seus habitantes. Para melhor aproximar o turista do território que lhe é vendido, acaba por subtrair-se desse território quem o habita. Um exemplo desta separação radical que é sobejamente conhecido por quem vive hoje em Lisboa é a expropriação de que estão a ser vítimas muitos lisboetas relativamente aos bairros históricos, situados no coração da sua cidade. Quem por exemplo procurar, no eixo que percorre esses diferentes bairros, um imóvel para alugar sentirá muitas dificuldades em encontrar o que procura. Reservada ao aluguer de curta duração a turistas, a oferta imobiliária nestes bairros é cada vez menos dirigida aos habitantes da cidade. Tendo-se iniciado assim o processo que a médio prazo irá converter os bairros históricos num pitoresco e lucrativo parque temático – sem outra vida para lá daquela que é cuidadosamente encenada para os turistas -, os habitantes de Lisboa não têm outra opção senão virarem-se para bairros que por agora apresentam um potencial menor de atracção turística.
A este respeito deve notar-se que o turista, consumidor passivo de paisagens e lugares, e o habitante, que destes se apropria activamente, perseguem territórios antagónicos. O primeiro busca um território exótico, surpreendente, repleto de espectáculos cujo consumo dá pleno sentido à sua viagem. O segundo, um território que ele pode moldar e tornar num espelho da sua própria biografia e num instrumento para a construção da sua identidade. Com o rápido crescimento da indústria turística, é o território do habitante que deixa subitamente de reproduzir-se, já que, para melhor vendê-lo aos turistas, aquela indústria apaga as marcas de uso deixadas pelas comunidades locais: reabilitam-se fachadas urbanas onde são eliminados os traços (cores, motivos, etc.) que os habitantes ao longo de décadas nelas haviam deixado, elimina-se também das ruas o mobiliário móvel bem como outros objectos efémeros usados pelas classes populares e adaptam-se ao gosto do turista os interiores de cafés, restaurantes, mercados e outros comércios, bem como a própria oferta, tornada chic e gourmet, que esses estabelecimentos doravante disponibilizam.
Em consequência, muitos habitantes passam a sentir-se deslocados no próprio território que habitam, o qual, para melhor vender-se, é transfigurado por um novo design que elimina as marcas de apropriação subjectiva deixadas pelos residentes – marcas essas em torno das quais se construíam identidades e memórias, as quais deste modo também se diluem. E é justamente quando os habitantes de um dado território são impedidos de se apropriar do mesmo que a indústria turística encontra condições para proliferar. Com efeito, o turismo jamais se pratica em grande escala em lugares onde impera uma apropriação subjectiva do território ou qualquer forma de relacionamento com o mesmo que não seja exclusivamente mediada pela mercadoria.
Ao criar a sua própria oferta de mercadorias equivalentes, que competem entre si para seduzir todo aquele que viaja, o turismo faz tabula rasa dos territórios onde se instala, apesar de aparentemente conservar e manter intactos esses territórios, os quais apresenta como sendo representações verdadeiras da identidade de um povo particular. Nestes territórios reconvertidos em destino turístico, os habitantes testemunham assim no seu quotidiano a materialização de uma das leis fundamentais da sociedade do espectáculo, ao verem aquilo que era directamente vivido afastar-se numa representação. Tornado objecto de pura contemplação, sobre o qual os habitantes dispõem de pouca ou nenhuma capacidade para intervir, o território turístico converte-se numa imagem autonomizada – uma aparência, um espectáculo. Eis, em suma, o que todo o turista consome.
5. Small world
Enquanto redução da experiência da viagem ao consumo de mercadorias, o turismo tem sido nas últimas décadas uma das actividades económicas que mais tem contribuído para a expansão geográfica e planetária do capitalismo, levando-o a apoderar-se de territórios até aí desprezados pelos investidores: centros históricos que tinham sido desertados pela classe média, paisagens naturais que se conservavam inacessíveis ao tráfego humano, aldeias e outros territórios que movimentos migratórios haviam tornado espaços abandonados, mosteiros e conventos que o declínio da fé privara de qualquer utilidade.
O fenómeno turístico tem assim permitido ao capitalismo estender-se a territórios que permaneciam completamente ignorados pela industrialização do planeta, muitas vezes totalmente abandonados. Graças a ele, é um novo tipo de indústria que desponta também em regiões até aí consideradas inóspitas. Por exemplo, em países completamente marginalizados pela economia-mundo capitalista como o Haiti, o Nepal, a Gâmbia ou Cabo Verde, o turismo dá um forte contributo para tornar o território atractivo para os investidores. Também em certas zonas desabitadas da Islândia, onde o frio, a baixa fertilidade dos solos e a falta de luz natural tornaram impossível a exploração económica do território, é agora o turismo que progressivamente torna essas regiões apetecíveis do ponto de vista da criação de negócio. O turismo leva assim o empreendedorismo e a criação de mais-valia a todas as latitudes do planeta.
Regularmente, os jornais informam-nos acerca das suas sucessivas conquistas, que em Portugal ocorrem a um ritmo quase diário: o fundo do mar ao largo da Madeira, tornado acessível ao consumidor de experiências sub-aquáticas; o interior da ilha açoreana das Flores, cujos trilhos se abrem aos amantes do trekking; aldeias abandonadas algures no interior, reconvertidas em cenários para experiências neo-rústicas. E a lista não teria fim, já que, em 2016, está em vias de deixar de existir um território que se possa considerar marginal para o turista. O que é válido tanto para Portugal como para o resto do mundo.
As fronteiras que migrantes e refugiados frequentemente encontram nos seus temerários périplos não têm lugar neste mundo novo, cada vez mais homogéneo e coerente, mas também cada vez mais interligado e pequeno, que o turista explora. O último estádio da mercantilização do small world turístico é aquele em que, quase sem excepção, todo o território mundial é posto à venda: dos confins até há bem pouco tempo impenetráveis da Amazónia às favelas insalubres de Bombaim, nada parece já conseguir escapar aos imprevisíveis e dinâmicos tentáculos da mercantilização turística.
6. Quem lucra com o turismo?
É habitual ouvir-se os defensores do turismo considerarem-no uma indústria mais democrática do que muitas outras e, nesse sentido, um importante factor de dinamização da economia no seu conjunto. Com a explosão da chamada economia colaborativa, através do sucesso alcançado pela empresa Airbnb, tem-se mesmo ouvido falar dos enormes benefícios sociais do turismo, graças à sua suposta capacidade para redistribuir riqueza por uma grande quantidade de pequenos agentes económicos. No entanto, em grandes metrópoles como Nova Iorque, onde aquela empresa está particularmente bem implantada, estima-se que uma percentagem cada vez mais elevada dos imóveis disponíveis para aluguer temporário pertençam já a empresas profissionais e não a pequenos proprietários. Aquilo que começou por ser uma boa oportunidade de negócio para proprietários amadores – em detrimento das grandes cadeias de hotéis – está-se progressivamente a transformar numa excelente fonte de rendimento para um número crescente de investidores que, nos últimos anos, se estão a virar fortemente para a compra e aluguer de imóveis nos bairros das grandes cidades com maior potencial turístico. Este mero exemplo revela que, até mesmo na sua versão colaborativa e social, o turismo está longe de contribuir para a economia no seu conjunto, como advogam os seus defensores.
Também o desenvolvimento mais recente do negócio imobiliário nos centros históricos de Lisboa e Porto mostra quem sai a ganhar com o desenvolvimento desta indústria. Em vez de beneficiar directamente os moradores menos abastados desses bairros, que vêem o preço do metro quadrado aumentar abruptamente, a reabilitação de milhares de antigos edifícios – fenómeno que decorre no âmbito de um processo mais vasto de musealização turística de bairros inteiros – é promovida por empreendedores e investidores que reconvertem casas de habitação em apartamentos para alugueres de curta duração. Uma classe de novos proprietários, mediada por meia dúzia de agências de mediação internacionais, reconverte assim os territórios à medida do capital que investe, os quais passam a excluir quem antes os habitava.
Enquanto actividade económica própria do capitalismo, o turismo não cria igualdade na economia, ele contribui para criar justamente o seu oposto. Que, por conta do afluxo turístico, um pequeno proprietário possa alugar de vez em quando um quarto ou um apartamento, ou que um pequeno comerciante possa vender mais umas cervejas ou uns pastéis de nata são pormenores que pouco ou nada mudam nas contas globais. O centro de todas as cidades onde o turismo está há já algumas décadas enraizado, com o seu comércio gradualmente tomado por uma rede de cadeias multinacionais, mostra que tipo de economia lucra com a adulteração turística do território, onde os big players nunca são os pequenos peões da economia regional, mas uma pequena rede de empresas gigantes com negócios à escala planetária. Em Barcelona, como (2) noticiava o NewHYPERLINK “http://www.nytimes.com/2014/10/20/world/europe/historic-loss-may-follow-rise-of-rents-in-barcelona.html?_r=1” HYPERLINK “http://www.nytimes.com/2014/10/20/world/europe/historic-loss-may-follow-rise-of-rents-in-barcelona.html?_r=1”York Times, por causa do aumento das rendas provocado pela pressão turística nas zonas históricas, os pequenos comércios tradicionais vão desaparecendo para dar lugar a grandes cadeias internacionais, como no triste caso – entre outros igualmente citados pelo jornal americano – de uma livraria histórica que fechou para dar lugar a mais uma loja do império Mango.
A este respeito poderia igualmente observar-se que, se o turismo fosse efectivamente uma fonte de redistribuição de riqueza, então a paradisíaca ilha da Madeira, recentemente distinguida pelos World Travel Awards como o melhor destino insular do mundo – sucedendo neste galardão à ilha do Bali -, não seria uma das regiões mais pobres de toda a Europa Ocidental, onde crianças famintas vão para a escola sem comer e são atendidas nos estabelecimentos de saúde com sintomas de desnutrição. Nesta ilha, os números oficiais apontam para um crescimento significativo dos lucros da actividade hoteleira. Segundo dados da Administração dos Portos da Madeira, são também 285 os navios de cruzeiros que estão previstos atracar no arquipélago em 2016. Mas, apesar deste excelente desempenho da actividade turística, são paradoxalmente cada vez mais frequentes as notícias (3) que referem a fome, a pobreza e a miséria na ilha que os promotores turísticos vendem como ‘a pérola do Atlântico’.
A conlusão que face a estes factos se impõe é que o grosso do capital gerado pelo turismo está muito longe de ser distribuído equitativamente pelas populações residentes, concentrando-se pelo contrário nas mãos de redes internacionais de investidores que mobilizam o seu investimento para aqueles negócios e territórios que, em cada momento, lhes garantem as melhores margens de retorno. E é precisamente por o grosso do capital gerado por esta indústria não vir beneficiar os pequenos agentes da economia que, um pouco por toda a parte, nos habituámos a assistir ao estranho convívio do turismo com a miséria mais obscena. Afinal de contas não serão a economia capitalista e a favela os dois lados de uma mesma moeda?
Notas:
(1) “Todos somos turistas”: Reportagem no site do Jornal Público em 20/12/2015| https://goo.gl/86B3nH
(2) “Historic Loss May Follow Rise of Rents in Barcelona”, Artigo no jornal New York Times em 19/10/2014, | http://goo.gl/KiSMUL
(3) “A fome e a pobreza estão a aumentar na Madeira”, artigo na Radio Calheta em 03/11/2015 | http://goo.gl/2Ebo2C
Os habitantes de Lisboa vêm aqui dizer aos turistas e às autoridades locais aquilo de que Lisboa não gosta, esperando de todo coração que alternativas sejam implementadas : http://www.lisboa-does-not-love.com/pt
Os habitantes de Lisboa não estão aqui a se manisfestar contra o turismo em geral. Sabe-se muito bem inclusive as vantagens financeiras que este pode trazer para a cidade. Simplesmente desejamos que Lisboa não se torne a nova Barcelona, nem que os antigos bairros lisboetas se tornem um parque de diversões de baixa qualidade. Os abusos do turismo de massa não é uma fatalidade – eles resultam da falta de vontade político-urbana e da atitude desrespeitosa de certos turistas.
Pro e contra turismo de massas
Hoje indústrias inteiras vivem do turismo. Começando com os grandes operadores e agencias de viagens e companhias hoteleiras até o pequeno café na esquina e os vendedores de postais. Não é fácil ter uma opinião objetiva neste caso. Para a população que não está envolvido neste negocio do turismo, vivendo nos bairros turísticos, a situação esta cada vez mais irritante com os fluxos de pessoas que passam na frente da porta que causam um aumento de preços das suas vidas diárias, porque pagam qualquer preço elevado para alimentos e serviços (porque não sabem melhor). Olhar para as cidades inteiras o turismo muda radicalmente a vida. Onde ontem houve ruas românticas vê se hoje as rikshas e veículos de turismo em grandes quantidades. Os centros das cidades estão perdendo os seus habitantes por causa do constante aumento dos aluguéis e edifícios vagos são ocupados por lojas de souvenirs, snack bars, hotéis e lojas. Muitos proprietários de apartamentos oferecem as casas de aluguel para turistas (AirBandB) e esvaziam assim os centros das cidades.
Por outro lado entretanto dependem muitos empregados e pessoas com pequenos negócios da renda realizado pelo turismo e assim tornar-se difícil demonizar as tendências descritas acima. A única opção seria neste caso promover um turismo gentil e amigável ao ambiente.
A pior forma do turismo moderno para a massa é gerido por grandes agencias que mandam milhares de pessoas em forma passiva (de uma atração para outra) sem chamar nenhuma criatividade do lado dos turistas porque todos os passos são pré-planeados e qualquer proposta de mudança não seria previsto no programa ou pacote. Por outro lado, muitas pessoas têm medo de descobrir uma cidade por conta própria ou são simplesmente demasiado preguiçoso para estudar a informação necessária para viajar sem qualquer organização ou guia.
Provavelmente não seria possível de abolir radicalmente a forma do turismo negativo. No entanto, conceitos alternativos deveriam ser elaborados com o destino de juntar a população com os visitantes numa forma positiva e criativa. Entender mais da outra cultura seria neste caso o lema. Viajar de pacote com programa fechado deve ser criticado sempre mais nos países do origem dos turistas. Hoje em dia quase não existe nenhum movimento contra esta forma estúpida de turismo. Em contrario é considerado como uma forma muito moderna (City short trips, Städtereisen etc.). Hoje Paris, amanha Lisboa e no fim do mês Roma – tudo em pacote – não queremos!!