Às portas da Europa, continua-se a matar em nome da defesa das fronteiras

20 de Fevereiro de 2014
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No passado dia 6 de fevereiro, uma linha de agentes da guarda civil espanhola, colocada na praia de Ceuta, disparou em direcção a um grupo de pessoas que tentavam atravessar a nado, de forma a entrarem em solo europeu, a linha imaginária que separa o enclave espanhol do resto do continente africano. Nesta noite foram pelo menos 15 as vítimas mortais das balas da polícia espanhola. Os tiros foram justificados por desacatos do outro lado da grelha fronteiriça, no entanto as imagens disponíveis (ver video abaixo) mostram um pelotão de fuzilamento a atirar sobre a água, causando mortes não só pelo impacto das balas de borracha, mas também por afogamento.

Perante os acontecimentos, o governo espanhol, através de Mariano Rajoy e do ministro do interior Jorge Fernández Dias, não só defendeu a honra e o comportamento da sua polícia como prometeu uma reforma na ley de estranjería (lei espanhola da imigração ) de forma a ilibar os agentes  da Guardia Civil perante possíveis críticas à sua actuação. A situação nas linhas fronteiriças de Ceuta e Melilla é neste momento bastante tensa, o que torna provável a repetição de cenários semelhantes que, de resto, ao longo dos últimos anos, tem tido bastantes episódios menos mediatizados mas igualmente trágicos.

Segundo alguns dados (fortres- seurope: goo.gl/IB2FJY / The Guardian: goo.gl/MKcm4j), as políticas europeias de protecção de fronteiras causaram cerca de 20.000 mortes nos últimos 20 anos. Os mesmos que militarizam o quotidiano perante a dissidência, que militarizam as fronteiras perpetuando os velhos fantasmas sobre o “estrangeiro”, matam e mentem ao mesmo tempo que clamam Democracia aos 4 ventos, na expansão da retórica duma Europa livre. Nas ruas, nos mares e nas fronteiras, os mortos pertencem sempre ao mesmo lado e essa parece ser a grande vitória da paz podre da harmonia europeia.

 

 

 

 

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