Lisboa “limpa”
No último mês de Novembro, o Departamento de Higiene Urbana da Câmara de Lisboa, com os habituais apoios da polícia, desalojaram um acampamento cigano situado em baixo do viaduto do Eixo Norte-Sul. Quando regressaram, ao final da tarde, as pessoas que lá viviam foram surpreendidas por nada encontrar no local onde se iriam abrigar do frio, num dia em que a temperatura mínima registada foi de 8ºC. Dois meses após as eleições, António Costa parece ter esquecido da sua visão de Lisboa como “cidade solidária, que promove a igualdade de oportunidades e inclui os excluídos”. Mais importante que a inclusão e a solidariedade parece ser a higiene urbana. Um acampamento precário onde, com pouco, se tenta combater o frio, é certamente um obstáculo à imagem “limpa” de Lisboa. Segundo a polícia municipal, o local foi encontrado “cheio de lixo diverso, nomeadamente colchões velhos, roupas imundas e fezes humanas”. Um dos agentes esclarece “que os romenos pertencem à Comunidade Europeia. São pessoas que se levantam cedo e abandonam o local para se dedicarem à mendicidade em vários locais da cidade”. É curioso que se levante a questão da nacionalidade, quando não foram identificadas pessoas no local, além do facto de o lixo aí encontrado ser um incómodo maior à polícia e à Câmara, ignorando por completo as pessoas que lá viviam.