Refúgio
Passa-se a ponte em direcção ao sul.
Uma
estrada infindável, que na verdade tem apenas duas dezenas de quilómetros leva-nos ali..
E de repente não estamos em Portugal, Tailândia talvez, ou outro qualquer país da Ásia.
Poderíamos ir de barco, assim atravessávamos o rio e chegávamos à península..mas não podemos. Podíamos se fossemos ricos, mas como não é o caso fazemos-nos à estrada. Em direcção ao sul até depois da tal ponte, aí viramos à direita e andamos naquelas estradas de filme americano, que não só têm o tal efeito de parecer que não acabam nunca, como a visão dos pinheiros mansos e dos corvos nas bermas lhe dão um certo ar de faroeste
e de terra de ninguém.
Passamos a povoação, com algumas casas de ambos os lados, as típicas tascas,replica iwc watches a rotunda com uma caixa de vidro com uma santa lá dentro, e continuamos..Andamos mais um pouco por caminhos onde a chuva dos últimos tempos deixou a sua marca e chegamos..Mas chegamos onde?
Vemos os complexos industriais do outro lado do rio, vemos o empreendimento turístico também lá ao fundo…
Em apenas alguns metros entramos numa bolha em que vemos só o lodo típico da maré baixa no rio, ouvimos pelo menos 4 cantares de pássaros distintos e deparamo-nos com um cais labiríntico feito de madeira pelos próprios pescadores..
Algo tosco e primitivo, quase..mas que se aguenta firme apesar dos temporais por que tem passado..
A viagem, a sensação de despertença do lugar em que estamos, sem que nunca nos seja permitido esquecê-lo, fazem deste lugar algo diferente..
Não me parece que seja turístico, espero mesmo que nunca seja muito visitado, pelo menos por aqueles que ali nada vão fazer..
As ostras a secar dizem-nos que há movimento, e os que chegam e começam a consertar o que as tempestades ultimas destruíram provam-nos que longe de ser um museu do trabalho daqueles que trabalham por si, está a ser utilizado, remendado, construído e utilizado para o fim a que foi proposto. Anda-se um pouco pela lama, onde crescem cogumelos e se vêem lesmas a passear e ouve-se o martelar das novas tábuas a serem pregadas.
Não me parece que seja um cemitério de barcos, há de sê-lo de outras coisas, mas parece que muitos destes têm ainda trabalho e continuam a servir o seu propósito, a recolha de peixe e marisco.. Mostra-nos que a capacidade de conseguirmos fazer várias coisas pode ser algo útil e valente, e não uma perda de tempo e energia.
Pescadores que são carpinteiros, ou carpinteiros que são pescadores??
Não sei se há uma resposta a esta pergunta, do mesmo modo que não sei se interessa haver.. Parece-me a mim, que no geral, quanto mais autónomos conseguirmos ser, quanto mais coisas conseguirmos fazer por nós sem a assistência de outros ou sem a delegação que por vezes isso implica, melhor!
Pelo menos sabemos com quem contamos, connosco, e com aqueles que nos ajudam e que connosco partilham algumas coisas, por vezes são amigos, por vezes são futuros amigos, por vezes são apenas pessoas que se cruzam connosco e com que partilhamos algo..neste campo, vale tudo!
Lembro-me de olhar para o céu, neste que foi um dos primeiros dias sem chuva e ver o sol, a lua e a maravilha de dois arco-íris..tudo em simultâneo! Lembro-me também de pensar que aquele era o lugar exacto onde tal poderia acontecer, e onde todos estes fenómenos fazem mais sentido, num lugar quase inóspito..
De tudo aquilo, espero apenas que tal lugar continue a ser conhecido só por aqueles que o construíram, que o constroem, e que o usam, e para aqueles, que como eu, têm a sorte de o poder visitar. Com um assumido sentimento egoísta, não quero partilhá-lo com muita gente e gosto de quando me lembro deste dia, ficar na dúvida se realmente lá estive ou se apenas sonhei com ele numa destas noites de tempestade.
Em sonho
ou não, é um bom refugio.replica longines watches