Acção contra as explorações petrolíferas e o “Greenwashing” em Portugal

19 de Março de 2016
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Gulbenkian

 

No dia 14 de Março foi dado mais um passo nas acções contra as explorações petrolíferas e o “Greenwashing” em Portugal. A ENMC, Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis, estava a realizar uma conferência sobre o mercado dos Biocombustíveis em Portugal, inserida no seu programa sobre o Gás e Petróleo e sobre o sector dos combustíveis, onde esclareceu os interessados no mercado em Portugal. A conferência foi realizada na Fundação Gulbenkian (Partex Oil and Gas) uma das principais Lobistas da indústria petrolífera no país e tinha como objectivo “informar e esclarecer todos os interessados sobre a organização e funcionamento deste mercado em Portugal”[1]
A ENMC convidou para oradores representantes da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO), Associação Portuguesa de Produtores de Biocombustíveis (APPB), da BioOeste, da BP [2], da Prio e da Torrejana, da Galp e a si própria com a presença do seu presidente Paulo Carmona. A ligação entre a indústria petrolífera e os bio-combustiveis estava bem patente na conferência. A APETRO e a APPB trabalham em conjunto e para o mesmo campo de investimentos, combustíveis e energia. A sua aliança é complementada com a presença de representantes de bio empresas portuguesas e uma multinacional petrolífera como a BP.

A BioOeste é uma empresa de transformação, na valorização de óleos vegetais usados, registada na categoria de “fabricação de outros produtos químicos” [3].
A Prio é uma das proprietárias de postos de combustível, principalmente junto das cidades do Porto e de Lisboa, reclama para si uma cota de 7% do mercado e diz querer mais. Em 2006 iniciou a construção de um parque de armazenamento para Combustíveis Fósseis, Biocombustíveis, Aditivos, etc., e uma fábrica de transformação de biocombustíveis no Porto de Aveiro. A Prio Energy é associada da APETRO, e da APPB.
A Torrejana já foi uma empresa de azeites, sendo hoje uma empresa de biocombustíveis. O biodiesel produzido é repartido com a Iberol, sendo que a produção da Torrejana é vendida no total à Petrogal. Para aumentar a competitividade a empresa quer investir no cultivo do pinheiro manso para biodiesel, importando a ideia do Brasil. Os Pinheiros, junto com o Eucalipto e outras árvores, fazem parte das árvores transgénicas na mira das empresas. Nos dias de hoje a empresa obtém óleo através dos produtores de óleo vegetal do país.
A Iberol em 2006 concluiu a sua fábrica de Biodiesel, sendo realizada a primeira entrega de biocombustíveis à Galp.

“Estima-se que dentro de quatro anos, o país precise de 300 mil toneladas de biodiesel para apoiar a satisfação das necessidades energéticas. (…) prevê-se a entrada de novas empresas neste sector, estando já anunciadas a criação de mais quatro unidades em todo o país.” [4]
A Galp, além de ser a petrolífera nacional, também investe nos biocombustíveis. Desde 2007 que juntamente com a Petrobras elabora um projecto de produção de biocombustíveis em Portugal, através da plantação de óleo de palma no Brasil que será transportado e transformado em Portugal. A ideia era de produzir 250 mil toneladas/ano em 2015.
“Tal investimento, além de atender aos critérios de rentabilidade das companhias, fortalece a posição da Petrobras como produtora de biocombustível e permite sua presença estratégica no mercado de combustível europeu” [5].
A BP (British Petroleum) é um dos autoproclamados líderes do mercado de biocombustíveis. A investir desde 2006, já tem ou estás nos seus planos adquirir instalações para operar no Brasil e Europa. A BP foi a primeira empresa a investir no Etanol da cana de açúcar do Brasil. Outro projecto da BP com o nome de Butamax Advanced Biofuels é uma join venture com a DuPont, para o desenvolvimento do biocombustível no Reino Unido. Também no Reino Unido, a AB Sugar junta-se à BP e à DuPont para construir uma infraestrutura de produção de etanol a partir do trigo.
A Gulbenkian é uma das infraestruturas cientificas do mundo que apoia abertamente os organismos geneticamente modificados seja para agricultura, investigação animal ou Medicina. Em 2015 o jornal observador publicou um artigo com o titulo: “E agora, que vão dizer os opositores aos transgénicos?” [6]
O artigo vêm assinado por António Coutinho, Ex-director do Instituto Gulbenkian de Ciência entre 1998-2012 e presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa. No artigo podemos reconhecer todo o apoio aos Transgénicos. Recolhemos este excerto: “arroz geneticamente modificado que contém vitaminas e assim salva da cegueira e de várias outras doenças os povos de regiões pobres.” Curiosamente este arroz também serve perfeitamente para as aspirações de outra fundação portuguesa que tantas alianças cria com a Gulbenkian, a Fundação Champalimaud que além de serem parceiras na tentativa da criação de um biotério [7] com alguns animais transgénicos, também têm um programa para irradiar a cegueira na Índia [8] : A principal causa de cegueira no mundo é a falta de Vitamina A nas refeições das crianças nos países pobres.
Salienta ainda que: “hoje fazemos melhor, mais controladamente e, sobretudo, muito mais depressa o que sempre fizemos na História. Donde a minha enorme surpresa ao assistir à resistência de alguns ambientalistas contra os alimentos “transgénicos”. Lobby muito poderoso e vocal, promotor frequente de arruaças, o “movimento anti-transgénico” é fruto de uma total irracionalidade.” (…) Um conselho para os mais radicais: preparem-se para uma nova “frente de luta”, pois estou certo que esta maneira de fazer “transgénicos”, por mais fácil, será abundantemente praticada no futuro. Além de tudo, estudos genéticos e fisiológicos indicam que a estratégia agora utilizada (inactivação de genes inibidores) foi, muito provavelmente, a base genética mais frequente do “melhoramento” feito às cegas de todas as espécies domesticadas que hoje possuímos.”
E foi para alertar para todo este negócio da indústria das energias (onde podemos incluir a alimentar) que alguns activistas decidiram interromper a sessão “de esclarecimentos” da ENMC. A intenção era interromper durante o máximo de tempo possível, sem que houvesse detenções, uma acção de propaganda e de apelo à acção directa na resistência às petrolíferas e indústria de energia no geral. A entrada não foi difícil, já que a Gulbenkian não esperava uma acção deste tipo. Depois de os activistas entrarem, ocuparam o palco onde estavam os oradores, abrindo uma faixa que dizia: “Nem Fósseis, Nem Biocombustíveis. Contra a Indústria Energética”. Ao mesmo tempo foi lido um comunicado, e foram distribuídos flyers onde se podiam ler frases como: “A fundação Gulbenkian exibe como valores seus a “preservação do ambiente” e o “espírito curioso e sensível à harmonia da natureza”. A mesma fundação oculta, no entanto, que é 100% detentora da Partex Oil and Gas (…)”, ou: “É por isto que é crucial ligarmos o geral e o local, concretizando empresas, instituições e indivíduos responsáveis pela nossa miséria, essa que existe por toda a parte.” O texto estava assinado por “Indivíduos contra a soberania das máquinas”.
Segundo testemunhos, quando os funcionários e membros do painel perceberam que os manifestantes não iriam abandonar a sala, começaram a tentar arrancar-lhes a faixa e a expulsá-los da sala, o que só foi possível quando chegou a polícia. Funcionários da fundação tentaram passar a mensagem que os activistas tinham sido violentos, o que foi desmentido pelas autoridades. Durante o tempo que levou à identificação das pessoas, as ameaças ouvidas de organizadores, participantes e funcionários foram várias, sempre com educação.
A organização acusa os manifestantes de não respeitar os trabalhos da sessão “como no Algarve, que decorreram com respeito pelos trabalhos”[9]. Os funcionários e seguranças retiveram os activistas até à chegada da polícia, que identificou alguns e os deixou sair.
Os activistas deixaram claro que esta acção foi o início de um movimento que quer e vai crescer em oposição à exploração de gás e petróleo em Portugal, ao greewashing e ao lobbying das empresas responsáveis pelo cluster das energias que põem em perigo as águas, as terras, a saúde e a autossustentabilidade local da população portuguesa, ao manter-se um modelo energético com impacto nocivo no futuro do planeta.
Não às petrolíferas em Portugal e no Mundo!

NOTAS
[1] ENMC.
[2] British Petroleum
[3] site “Novo Portugal”
[4] (site “Portal Escola da Energia”).
[5] Jornal de Negócios
[6] Observador; biologia- 04/08/2015
[7] Centro de produção de animais para testes
[8] “Visão 2020 – O Direito à Visão”
[9] Diário de Notícias

Autor: IA

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