Energia e Paz a todo o Gás!?
Ucrânia Quente serve Prato Frio a Lugansk.
“Um Estado ucraniano, independente e estável, firmemente comprometido com a democracia e as regras da lei, é chave para a segurança Euro-Atlântica”. (1)
As fontes de energia, que tomamos como certas e que nos aliciam com conforto e bem-estar, vêm de longe e são armas de guerra e paz na geopolítica mundial. Portugal prepara-se para ser fornecedor-explorador e/ou fornecedor-distribuidor de gás não convencional. Fornecedor-explorador se conseguir encontrar gás de xisto (shale gas) em território português, armazenando e distribuindo a parte destinada à União Europeia (UE) e vendendo o excesso; fornecedor-distribuidor ao receber gás de xisto dos EUA e da América do Sul e gás natural de África em nome da segurança energética nacional e europeia. A pacificação de áreas de extração e/ou armazenamento e distribuição é intrinsecamente acompanhada por “guerras civis” dentro das suas fronteiras e longe dos nossos olhares.
Apesar dessa distância, é preciso não esquecer que, também em Portugal, o duche de água quente a ouvir uma boa música é resultado de um modo muito frio de produzir e distribuir energia. Um dos exemplos foi o ataque “terrorista”, em 2013, ao campo petrolífero de Amena, na Argélia, que utiliza o gasoduto Magrebe, que serve também o campo de Hassi R´mel que vem até Rio Maior, para nos servir. A necessidade de trazer a paz às famílias dos sequestrados levou a um ataque que vitimou dezenas de pessoas. Outro factor importante é a Rússia ser um dos principais fornecedores de gás da Europa, com a particularidade de que o gasoduto que entrega o produto passar na Ucrânia. A tensão entre a Ucrânia e a Rússia tem sido notícia nos últimos anos devido à luta pelo controle de áreas como Lugansk e a Crimeia. Uma tensão não resolvida e que pode, a qualquer momento, fazer perigar o abastecimento de gás. Qual será o destino de Portugal como ponto de entrada de fontes de energia para o séc. XXI, e qual a sua consequência na população residente?
No passado dia 26 de Abril, a Rússia prometeu fornecer eletricidade a Lugansk, na área separatista controlada por si, depois de o governo da Ucrânia ter cortado o fornecimento devido a contas por pagar. Dmitry Peskov, representante do Kremlin, não disse como iriam organizar o fornecimento elétrico na região ucraniana da fronteira com a Rússia, mas o líder separatista Vladislav Deinego declarou que a Rússia enviava a eletricidade através de torres de alta tensão que escaparam à guerra. O último confronto entre os dois países pelo controle de Lugansk provocou mais de 10.000 mortos.
A Ucrânia já tinha cortado o fornecimento de gás na área de Lugansk em 2015, impondo um bloqueio nas zonas ocupadas pela Rússia. Nesse ano, depois de a Rússia anexar a Crimeia, o cessar-fogo foi violado regularmente. O governo da Ucrânia parece esquecer o que o povo ucraniano sofreu depois de, em 2014, as negociações sobre o preço do gás entre o governo da Ucrânia e o da Rússia, em representação da empresa estatal Gazprom, terem levado ao corte do abastecimento de gás à Ucrânia, o que provocou vários mortos na época de inverno, mantendo o fornecimento à Europa. A Rússia fornece 1/3 do gás da Europa, mas a distribuição desse fornecimento é responsabilidade da Ucrânia. Entre 2006 e 2009, o fornecimento de gás à Europa foi afectado, porque, de acordo com a Gazprom, a Ucrânia estava a desviá-lo para si. A UE, na tentativa de assegurar o fornecimento de gás para o inverno, tentou negociar com a Rússia uma entrada de mil milhões de dólares. Apesar de a Ucrânia concordar, a Rússia recusou, exigindo mais para compensar os quase 4,5 mil milhões de dívida. Arseni Yatseniuk, primeiro ministro da Ucrânia, ligando o corte, à anexão da Crimeia pela Rússia e ao movimento separatista pró-russo no leste do país, disse: “Não é só o gás. É um plano para destruir a Ucrânia”.
Em 2015, a Gazprom decidiu enviar gás para Donetsk e Lugansk, no seguimento do corte ucraniano de fornecimento às zonas auto-proclamadas repúblicas separatistas. A Ucrânia, lembre-se, cortara o abastecimento depois da Rússia ter exigido que fosse o governo ucraniano a pagar o gás utilizado pelos rebeldes pró-russos. Mas a resposta não se ficou por aqui e, atacando ucraniana Naftogaz com a exigência do pagamento da conta de gás do mês anterior, ameaçava cortar o abastecimento à própria Ucrânia, afectando países como a Bulgária, a Grécia, a Macedónia, a Roménia, a Croácia e a Turquia. A União Europeia interveio para, mais uma vez, assegurar o seu fornecimento de gás, tentando um encontro a três.
Olhando para o que se passou no final de 2016, esse encontro não resolveu nada, porque, em Dezembro, o tribunal administrativo de Kiev puniu a Gazprom com uma multa por abuso de monopólio no mercado de transporte de gás, ao exigir um aumento no preço de gás que é consumido na Ucrânia. A Naftogaz não compra gás à Rússia desde o final de 2015.
Numa entrevista recente (2) à agência de notícias Reuters, Petro Poroshenko, presidente da Ucrânia, disse acreditar que, se o povo ucraniano fosse levado a votar em referendo a entrada do país para a NATO, mais de metade era favorável. Desde que tomou posse, em 2014, que Poroshenko se aproxima da Europa, procurando aderir à Aliança Atlântica, para viver em Paz a todo o Gás!
A The German Marshall Fund of the United States (GMF), instituição dedicada a promover melhor entendimento e cooperação entre a América do Norte e a Europa em assuntos transatlânticos e globais, organiza todos os anos o Fórum de Bruxelas. Na sua agenda estão uma diversidade de assuntos da relação comercial transatlântica, onde se incluem temas como Crise Global, Rússia, Afeganistão, Médio Oriente, Alterações Climáticas, entre outros. No programa do Fórum de Bruxelas, também todos os anos se realiza a The Young Professionals Summit:
“Convidamos-te a juntares-te à YPS como parceiro ao enviar estrelas em ascensão da tua organização para conseguir penetrar nas maiores decisões que vão afectar a próxima geração de líderes e beneficiar de trocas de conhecimento profundas com legisladores dos Estados Unidos e Europa.” (3)
João Vinagre