Ucrânia: guerra suja e propaganda

13 de Setembro de 2014
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ucrania_crimeia_destaqueEm diversos meios de comunicação social europeus (alguns ligados à esquerda) tem sido difundida a ideia de que na guerra “civil” que destrói o leste ucraniano se debatem dois campos ideológicos: de um lado, golpistas de Kiev ligados à extrema-direita ucraniana, e do outro, separatistas pró-russos, aos quais se têm juntado voluntários anti-fascistas europeus.

Contudo, esta visão é facilmente desmontável. A guerra é militar, não civil. Os “voluntários”, que de um lado e do outro se somam às linhas da frente, são conhecidos protagonistas da extrema-direita, tanto russa como ucraniana. Embora pouco se saiba sobre o financiamento dos separatistas, tratam-se de fascistas russos de correntes políticas “identitárias” e “euro-asiáticas”, que ocupam lugares de destaque, como Andrey Purgin, o “primeiro-ministro da República Popular de Donetsk” 1. De facto, com os separatistas lutam dezenas de russos, chechenos, afegãos, muitos sendo mercenários que a troco de rublos lutam pela “grande pátria russa”.

No outro lado, o “sector direita” (coligação de partidos e grupos militantes da extrema-direita ucraniana) através de batalhões como o “Azov” apoia o avanço das tropas ucranianas, funcionando como linha da frente de infantaria. São os mesmos fascistas que lutaram na linha da frente da insurreição na praça Maidan, Kiev, no ano passado. Mesmo que financiados, o “sector direita” dispõe de menos meios mas uma entrega ideológica muito maior relativamente ao lado russo, sendo usado como “carne para canhão” para as mesmas forças políticas e militares que, durante a Guerra Fria, já haviam usado a extrema-direita contra o avanço do comunismo, da esquerda radical e do anarquismo na Europa.

O crescente apoio de sectores da esquerda e extrema-esquerda europeia aos separatistas russos resulta de uma predominante preguiça intelectual, visto que facilmente se iludem com um pouco de propaganda ao velho estilo soviético. É assim que, por exemplo, se gera confusão quando grupos fascistas italianos, como o grupo “Millenium” (um grupo de “esquerda nacional” italiano), publicam fotos juntos com os seus “camaradas” russos. Na prática são velhos fascistas com uma nova roupagem.

Por outro lado, a extrema-direita europeia alinha com Moscovo, por considerar que a Rússia é o garante de uma possível desintegração da União Europeia e por simpatizar com o autoritarismo musculado de Vladimir Putin. No acto de anexação da Crimeia, os convidados a “observadores internacionais” ao referendo eram enviados de partidos como a Frente Nacional francesa e o Jobbik húngaro, ou o KKE partido comunista grego 2.

Nas frentes de batalha da guerra que devasta o território ucraniano, que de “civil” só tem os mortos, trava-se uma guerra propagandista, e não ideológica.

Nuno Pereira

 

 

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