O que fazer quando os patrões se deslocalizam?

21 de Novembro de 2012
Print Friendly, PDF & Email

A Cerâmica de Valadares, em Gaia, tinha 214 funcionários em regime de”lay-off”. Em meados de Agosto, com salários e subsídios de férias em atraso, metem trancas à porta da empresa, impedindo a entrada e a saída de viaturas e pessoas. No final desse mês, a administração começou a pagar-lhes Julho, ficando, porém, a faltar cerca de 30%. Em Setembro, a maioria dos funcionários suspendeu os contratos de trabalho, com o objectivo de poder recorrer ao subsídio de desemprego, mantendo vínculo à empresa. No dia 11 desse mês, a Segurança Social confirmou que a situação de ‘lay-off’ na empresa estava suspensa”. A Cerâmica irá, muito provavelmente, fechar.

deslocalizacoes

Em Julho, o administrador da Boulangerie de Paris mudou as fechaduras das portas das três pastelarias que o grupo detinha no Porto e fechou a empresa, fugindo para França. Tratou-se dum encerramento forçado, violador da lei, que não respeita os trabalhadores que ficaram sem salários e sem possibilidade de recorrer ao subsídio de desemprego por não terem sido formalmente despedidos. Decidiram acampar junto a uma das lojas, em protesto e como forma de pressão para receberem o dinheiro e a carta de despedimento. Dois meses depois, já não estão lá. Têm a carta, que não o dinheiro.

Duas lutas em que os trabalhadores tomaram posições bastante combativas na defesa do direito básico de serem pagos pelo seu trabalho. Mas também duas lutas em que o sabor final é amargo. Talvez pela modéstia dos objectivos. É preciso pensar se não será hora de, quando os patrões se deslocalizam, económica ou pessoalmente, os trabalhadores continuarem a laborar, utilizando as instalações, os conhecimentos e o suor que, no final de contas, são seus. Seria inviável uma Cerâmica de Valadares ou uma Boulangerie de Paris gerida pelos próprios trabalhadores? Não o sabemos. O que sabemos é que, geridas por patrões, viável nenhuma foi.

About the Author