Da denominada floresta. O eucalipto colonialista
Existem histórias que ninguém sabe como começaram a ser contadas ou quando começaram a ser inventadas. O que se segue é sobre a história de uma invenção, a denominada «floresta portuguesa».
Foi em Outubro passado que conheci o Pablo. Tem trinta anos, natural do Uruguai imigrou para a Andaluzia onde trabalhou na construção civil. Com a crise em Espanha, a construção parou. O Pablo meteu-se no camião-casa e partiu para França à procura de trabalho. Quando nos conhecemos e soube que eu vinha de Portugal disse-me com simpatia que tinha cá vindo no verão passado. «Gostei muito de conhecer a floresta portuguesa. Estava já farto da paisagem da Andaluzia, sem árvores». Fiquei curioso. Onde raio é que ele viu floresta em Portugal, no Gerês? Perguntei por onde andou. «Estive no sul.» «No Algarve?» «Sim, no Algarve. Quando entrei em Portugal vi lindas florestas de árvores altas, fez-me recordar a minha terra». O quê? Árvores altas em Portugal, a lembrar as florestas da América latina? Quis saber e pedi-lhe que descrevesse as árvores altas que tinha visto. Não demorou muito, eram eucaliptos. «Porra! exclamei eu, mas essas árvores não são portuguesas, nem ibéricas, nem europeias, são colonialistas. Hombre, elas são gringos, entendes?»
Estávamos a trabalhar e não abusámos mais do tempo do qual o patrão é dono e senhor. A conversa ficou por ali. No entanto, mais tarde noutra situação, conheci a história de duas pessoas, também elas tinham estado em Portugal, mais concretamente em Idanha-a-Nova, no festival de música Boom. Uma delas francesa, que também avistou, a partir do comboio, «lindas florestas» em Portugal.
Monocultura intensiva de eucalipto que, como sabemos, veio da Austrália. Mas a ideia com que os não conhecedores ficam é a do eucalipto ser originário de Portugal. Esta ideia advém das plantações contínuas iniciadas há quarenta, cinquenta anos. De acordo com o IFN, Inventário Florestal Nacional, «o eucalipto é a árvore mais plantada em Portugal continental, com um aumento de 16% de área entre 1995 e 2010, enquanto o povoamento de pinheiro bravo diminuiu 13% de área, cerca de 263 mil hectares. Os eucaliptos ocupam uma área florestal de 812 mil hectares, seguido do sobreiro, com 737 mil hectares e do pinheiro bravo, com 714 mil hectares. O uso agrícola do solo apresenta, no mesmo período, uma redução de 12%.»
É preciso repetir quantas vezes for necessário: os eucaliptos plantados em Portugal são fábricas de morte, deserto, um benefício económico sobretudo para as indústrias de pasta celulósica e de papel. Secam fontes, poços e nascentes. Invadem as serras, os campos, cercam e isolam as populações, substituem o pinheiro, o chaparro, a oliveira… Ao optar pela plantação de eucaliptos, o industrial-lavrador (87% da floresta portuguesa é privada) entrega-se ao negociante madeireiro e à indústria de celulose a fim de obter um retorno financeiro rápido. Porém, os eucaliptos deixam atrás de si cepos em solos cansados de dispendiosa e difícil recuperação para novas culturas. Segundo o presidente da Acréscimo, associação de promoção do investimento florestal, «o arranque dos cepos pode aportar entre 450 e 750 euros por hectare». Assim, uma terra de eucaliptos, depois do terceiro corte pouco ou mesmo nada vale. E mais se desvaloriza com a falta de água. Não somente essa terra, como aquela que, embora com outras culturas, tem eucaliptos vizinhos.
Há que ver o seguinte, para aproveitar o «potencial económico» do eucalipto, para que os trabalhadores da indústria celulósica e de papel tenham emprego, foi necessário que muitos trabalhadores agrícolas perdessem a sua actividade, as suas terras. Foi necessário transformar Portugal num deserto.
Para terminar, outra pessoa que veio ao Boom a Idanha-a-Nova foi um neozelandês. Este moço ficou radiante ao encontrar, por cá, os eucaliptos australianos. Com o ar mais inocente perguntou: «também há coalas?». Não, não há! O que existe é uma grande incapacidade para travar o eucalipto, esse fascista dos campos, como lhe chamou, há mais de três décadas, Afonso Cautela, pioneiro deste combate. Combate que ainda está por fazer.
Z.T.
Obrigado por expor este problema de grande intensidade para Portugal.
Depois do grande fogo em outubro de 2017, o eucalipto alastrou-se ainda mais.
Eu acho que isto nunca vai ser resolvido, o povo português é muito conformista e passivo.
Maior parte das pessoas não têm qualquer ideia do problema que o eucalipto está/vai criar neste país.
É preciso informar as pessoas sobre este problema e que existem outras alternativas.
O eucalipto foi uma opção para ganhar dinheiro para os agricultores que já não consiguiam cultivar os terrenos e a falta dos jovens que optaram para ir trabalhar para grandes cidades ou para o estrangeiro
Hoje esses terrenos ocupados pelos eucaliptos são roubados pelos madeireiros aos particulares .Tiram os marcos e devido a não existir documentos actualizados nas finanças, é difícil provar o contrário
Estás aldeias acabarão por deixar de existir e o que vai ficar são os eucaliptos.
Os interesses económicos atraiem os políticos.
Muitos estrangeiros que compraram moradias nestas zonas depois do grande fogo do ano passado , perderam a confiança neste país.
Algum tempo atrás ouvi algo que me interessou bastante, foi sobre uma árvore que poderá substituir o eucalipto e que não é prejudicial , árvore chama-se paulownia.
Eucaliptos e mais Eucaliptos e por via das duvidas Eucaliptos! Para Proteger a natureza planta-se mais uns quantos Eucaliptos! A melhor floresta de MER*d*A da Europa e quem sabe do Mundo!
Informação retirada do “6.º Inventário Florestal Nacional – Termos e definições” (acedido a 10 de Fevereiro de 2015)
FLORESTA
Terreno, com área maior ou igual a 0,5 hectares e largura maior ou igual a 20 metros, onde se verifica a presença de árvores florestais que tenham atingido, ou com capacidade para atingir, uma altura superior a 5 metros e grau de coberto maior ou igual a 10%. Notas explicativas: 1. Inclui os povoamentos jovens (de regeneração natural, sementeira ou plantação) que no futuro atingirão uma percentagem de pelo menos 10% de coberto e uma altura superior a 5 metros; 2. Inclui superfícies arborizadas (povoamentos) e superfícies temporariamente desarborizadas. As superfícies temporariamente desarborizadas correspondem a terrenos sujeitos a cortes únicos (resultantes de ações de gestão florestal programas ou decorrentes de factores bióticos ou abióticos), ardidos recentes, e terrenos em regeneração após uma corte/incêndio e para as quais é razoável considerar que estarão regeneradas em 5-10 anos. 3. Inclui florestas abrangidas por qualquer estatuto de proteção e conservação, inclui árvores indígenas, exóticas ou invasoras, e florestas geridas e não-geridas. 4. Inclui quebra-ventos, cortinas de abrigo ou alinhamentos de árvores, com área maior ou igual a 0,5 ha e largura maior ou igual a 20m. 5. Inclui estradas florestais, aceiros e arrifes, corta-fogos, faixas de gestão de combustível ou clareiras, com área menor que 0,5 ha ou largura inferior a 20 m, quando integrados em manchas de floresta com mais de 0,5 ha e 20m de largura. 6. Inclui montados de sobro e azinho que cumpram a definição de floresta independentemente do sobcoberto que apresentem; 7. Inclui povoamentos de pinheiro-manso, alfarrobeira ou castanheiros, mesmo quando o seu principal objetivo da sua condução silvícola é a produção de fruto. 8. Inclui terrenos com árvores mortas em pé com mais de 5 metros de altura e cujo grau de coberto seja ou fosse maior ou igual a 10%. 9. Inclui terrenos de cultivo de plantas em viveiros florestais. 10. Inclui plantações energéticas de árvores florestais desde que o modelo de silvicultura permita que as árvores atinjam 5 metros de altura e uma percentagem de coberto maior ou igual a 10%. 11. Exclui terrenos que cumprem a definição de floresta, mas que correspondem a parques e jardins urbanos. 12. Exclui pomares de fruto e olivais.