Da Destruição Dos Solos

18 de Fevereiro de 2013
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Os impactos da degradação e consequente destruição dos solos pode ser verificado todos os dias: aumento de nitratos nos rios, pesticidas na água potável, inundações…

Alguns dados mundiais, divulgados por especialistas insuspeitos nesta área, ajudam a compreender. Em 6.000 anos de agricultura o homem agricultor produziu 2 mil milhões de hectares de deserto; na actualidade, a agricultura produz 10 milhões de hectares de deserto; cada ano, enchem de betão cerca de 5 milhões de hectares; o sistema agrícola tecno-industrial já não consegue alimentar o planeta, milhões de pessoas são sub-alimentadas.

Todos os dias arruínam-se um pouco mais os rios e os lençóis freáticos. A irrigação das culturas provoca a salinização dos solos, destruindo a matéria orgânica pela aceleração da mineralização. Os «especialistas» chegaram à conclusão que 90% dos solos de países como a França, Espanha ou Portugal não têm mais actividade orgânica. Dito de outra maneira, os lençóis freáticos têm grandes dificuldades em se recarregarem.

Como é que chegámos aqui? Antes de tudo, é a consequência da convicção de que existe uma dicotomia homem-natureza. Depois, as práticas da agricultura moderna. Como, por exemplo, o uso de adubos químicos e a irrigação, as quais aceleram a perda de matérias orgânicas que alimentam a fauna. E sem a fauna não existem mais elementos nutritivos à superfície. Por exemplo, em 1950 encontrávamos por cada hectare 2 toneladas de “bichinhos” da terra; hoje, encontramos cerca de 50 kg na mesma superfície. Deste modo, os elementos nutritivos perdem-se e os solos destroem-se, provocando fenómenos de erosão generalizada, aumento das inundações, perda de retenção da água, e, logo, agravamento do efeito de estufa, empobrecimento dos solos e a quebra drástica dos rendimentos prometidos pelos ideólogos da Técnica. O ciclo é infernal. Para compensar a fraqueza dos solos enchem-nos de adubos e produtos fitosanitários. Uma vez que o desaparecimento da vida animal no solo deixou o lugar vago para os cogumelos patogénicos e insectos “nocíveis”.
Além disso, o amanho das terras e os solos nus constituem fenómenos agravantes no desaparecimento da pouca matéria orgânica que, após a cultura, resta à superfície. Isso impede a formação de húmus, favorece o desenvolvimento das ervas ditas “daninhas” e ainda acelera a mineralização dos solos. O sistema agrícola moderno é largamente sustentado pela indústria química que produz, por um lado, os adubos e os produtos fitosanitários e, por outro, os medicamentos que “tratam” os consumidores intoxicados. O efeito destruidor deste sistema é cada vez maior. Além de que, os apregoados rendimentos, os quais constituíram sempre um dos grandes argumentos para a imposição das práticas da «agricultura moderna», estagnam ou diminuem drasticamente sob o choque violento de retorno da natureza. Em contraste, a indústria dos medicamentos continua a facturar

Hoje, produzem-se 70 quintais por hectare de trigo quando em 1984 a produção era cerca de 100. Nessa época os agrónomos anunciavam 150 para o ano 2000. Os solos empobreceram e a «agricultura moderna» não é mais durável. Os tecnofílicos pensaram que certos vegetais não precisavam de solos, somente de um suporte de lã mineral e de adubos, logo os industriais aproveitaram para facturar: tornando os alimentos insípidos.

Os nossos antepassados sabiam bem que cada terra tem as suas particularidades, cada solo é adaptado para esta ou aquela cultura, algumas para cereais outras para as vinhas, etc. Os nossos antepassados conheciam igualmente a necessidade de associar as margas e o composto sobre os terrenos a fim de regenerar os solos, a fim de, pese a intervenção humana, manter a vida biológica e assegurar boas colheitas. Em 1950, nenhum fungicida era necessário nos trigos da Europa. Hoje usam-se três ou quatro. Uma vez que é o vendedor de produtos industriais que faz de conselheiro agrícola. Eis como as práticas desenvolvidas por muitas gerações são substituídas por receitas químicas: no cultivo, uma boa dose de pesticidas.

No final, os resultados são claros: a erosão dos solos que perdem a sua reserva útil em água e os lençóis freáticos poluídos. Os solos são tudo, menos matéria inerte. Trata-se de um sistema vivente (alguns chamam-lhe ecossistema) que, se for bem equilibrado, nutre as culturas, protege-a das doenças e das nocividades e fornece, aos seres humanos que o respeitem, os alimentos indispensáveis.
Quais são as soluções para parar essa destruição? Antes de tudo ter a ideia de que o ser humano é um, e só mais um, com a natureza. Deve pois, o ser humano, estabelecer uma relação pacífica com a biosfera.

Não podemos esperar tudo de um dia para o outro. É preciso tempo para reconstruir um solo. Comece-se pelo levantamento do terreno, avaliar as suas reservas nutritivas, tentar perceber as suas particularidades e as suas necessidades sem ter a convicção de que se sabe e conhece tudo. É necessário parar de «trabalhar a terra», para passarmos à «arte de repousar a terra», reconstituir a fauna e proteger os solos da erosão, etc. Neste tipo de acção não deixaremos um solo nu, devemos cobri-lo com vegetação adaptada a cada um, ao clima, à cultura. De seguida, deixar à natureza a tarefa de realizar a sua própria obra.

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