Comunix:

Escola comunitária prepara futuro dos baldios

29 de Outubro de 2017
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Num ano trágico que pôs o país a olhar para um interior desertificado e a reclamar soluções para o mundo rural e florestal, a governação de terras comunitárias foi o tema de fundo de  uma Escola de Verão que juntou dezoito jovens da Galiza, Portugal e Itália no passado mês de Agosto, em torno da realidade dos baldios e dos montes vicinais. A Escola Comunix terminou com uma apresentação pública no dia 2 de Setembro, no Clube
Recreativo de Vilarinho, Lousã, onde os jovens compartes, os promotores do projecto e os gestores das áreas comunitárias associadas partilharam as suas impressões sobre o caminho percorrido.

Ao longo de quinze dias, repartidos entre Pontevedra e Vilarinho da Lousã, os jovens visitaram diversas comunidades locais, onde puderam conhecer de perto diferentes abordagens de gestão e aproveitamento de recursos comuns, confrontando-se com os desafios que as áreas comunitárias enfrentam.

Fizeram-no, por exemplo, num dia de pastoreio em Pontevedra, onde puderam “viver a realidade” dos pastores de cabras no monte, enquanto aprendiam sobre o dia-a- dia daquela cooperativa galega. Em visita aos Baldios dos Lugares da Extinta Freguesia de Vilarinho, viram-se em mãos com alguns dos problemas reais com os quais aquela comunidade de compartes se debateu nos últimos anos, ficando a seu cargo a proposta de soluções possíveis. Através de rodas de conversa, os jovens exercitaram a busca de consensos e a tomada de decisões horizontal sobre formas de melhorar a situação daquelas terras colectivas.

 

“Quando as gentes cuidam do monte, o monte também cuida das suas gentes

Na abertura da sessão “A Escola Comunitária vista pelos participantes” no seminário final Comunix, salientou-se como «o abandono das terras é o panorama geral que ninguém consegue esquecer. Pior é sabermos que o desígnio deste problema é vinculado ao longo de todo o território pelos mais diversos proprietários do solo que não sabem reverter este processo. Este problema começa a atingir no mínimo o intolerável a partir do momento em que temos aldeias-fantasma ou territórios simplesmente entregues ao tempo.»

De dedo apontado à “privatização dos montes pelas grandes empresas que exploram os recursos e levam todos os lucros para fora”, deixando as comunidades sem terras nem oportunidade para desenvolver novos projectos, os jovens ressaltaram a necessidade de leis que protejam as propriedades comunitárias e fomentem a criação de projectos cooperativos. Preocupados com a preservação ambiental dos montes, mas também com o desemprego, o empobrecimento e o abandono das zonas rurais, defenderam o potencial de criação de valor económico e social dos baldios através da adopção de “modelos diversos e diversos
aproveitamentos”, permitindo que “mais comunidades vicinais possam viver destes montes”.

Um dos jovens participantes na escola de verão alertava como «o meu vínculo com a terra permite-me dizer hoje, perante esta plateia, que se um local não tem as condições ideais para uma família lá viver ou uma empresa lá laborar, alguém falhou, e isso é muito grave. Para finalizar, o gosto que alguém tem por um local por si só não chega para o recuperar, mas é condição necessária para o fazer.»

Nas lições que levam da escola, os jovens lembraram ainda a importância da divulgação da realidade dos baldios (“não há interesse pelo que não se conhece”), e o papel fundamental da educação para que as várias gerações estejam conscientes e capacitadas para a gestão e participação democrática nos destinos das terras comunitárias – ideia que resumiram nas palavras da Rita Serra, coordenadora da Escola Comunix e investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, “a maior fraqueza dos montes é a ignorância das pessoas, que não sabem que são parte deles”.

O seminário final Comunix contou ainda com intervenções dos parceiros do projecto na Galiza (Cooperativa Cultural Trespés), Itália (Partecipanza Agraria de Nonantola) e Portugal (Baldios dos Lugares da Extinta Freguesia de Vilarinho, Lousã), com interlúdios musicais de ANALOG ART MAN, e com a apreciação institucional do projecto pela Agência Nacional do Erasmus + Juventude em Acção (entidade financiadora), Câmara Municipal da Lousã e Junta de Freguesia da Lousã – Vilarinho. O fecho coube à euro-deputada Marisa Matias, responsável pelo intergrupo dos bens-comuns no Parlamento Europeu.

 

Sara Moreira

saritamoreira@gmail.com

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