Jovem encontrado morto após violenta carga policial em protesto contra construção de barragem em França
Rémi Fraisse, um jovem de 21 anos, foi encontrado ontem morto na zona do rio Tarn, depois de uma noite de cargas policiais, onde desde o passado dia 25 de Outubro se têm organizado várias jornadas de protesto contra a construção de uma barragem planeada na zona e contra a repressão que dura há anos na ZAD 1.
Os primeiros confrontos começaram Domingo à tarde quando a polícia começou a usar gás lacrimogéneo e granadas de atordoamento para dispersar os manifestantes que formavam um cordão humano. Após suavização dos confrontos ao início da noite, às 2 da manhã a polícia de intervenção iniciou nova carga, desta vez usando massivamente gás e disparos de projécteis. Testemunhas afirmam ter visto o jovem cair durante esses confrontos.
A polícia afirma que o jovem teve um ataque cardíaco e que o seu corpo foi encontrado de madrugada. No entanto, de acordo com os primeiros resultados da autópsia, e segundo declarações do procurador da república, Claude Dérens, em conferência de imprensa, “a grande ferida na parte superior do dorso de Remi Fraisse foi causada muito provavelmente por uma explosão”.
Desde 2013 que se iniciaram os trabalhos de construção da barragem de Sivens, projectada para ser construída num dos afluentes do rio Tarn. O seu nome deve-se à floresta que se estende no local e o seu objectivo é assegurar a irrigação de culturas intensivas de milho nas zonas circundantes. Financiada totalmente com dinheiros públicos, terá uma represa com uma capacidade para 1.5 milhões de metros cúbicos de água. Para isso serão inundados mais de 30 hectares entre zona de floresta e zonas húmidas, e ameaçadas mais de 94 espécies protegidas, ameaçando os ecossistemas locais.
A extrema violência que a polícia tem exercido sobre as iniciativas e movimentos de contestação, tanto contra a construção do aeroporto de Notre-Dame-des-Landes, como contra a barragem de Sivens, prova que o Estado francês e as empresas promotoras não olham a meios para implementar e desenvolver os seus projectos, com máxima celeridade e a qualquer custo. A morte de um jovem às mãos da polícia mancha de sangue outros projectos de barragens de grande dimensão para a produção de electricidade, aeroportos, linhas de Alta Tensão, comboios de alta velocidade e a extracção de gás através da fractura hidráulica noutras zonas da Europa.
[…] Na manhã do dia 26 de Novembro, no Porto, a entrada do prédio em cujo segundo andar se encontra o consulado francês apareceu pintada em vários pontos: "Rémi c'est notre rage" (Rémi é a nossa raiva) e "França assassina", no que parece uma forma de recordar o assassinato de Rémi Fraisse. […]
[…] Mais recentemente, em zonas rurais, a resistência aos projectos de implantação de infra-estruturas bem se viu confrontada com as práticas francesas em matéria de controlo do território: os gendarmes [polícias] literalmente enlamearam-se todos em Notre-Dame-des Landes e a chafurda que fizeram teve como consequência previsível o uso frenético das suas armas, provocando numerosos feridos; e em 25 de Outubro de 2014, provocaram a morte de Rémi Fraisse na Zad do Testet. […]
[…] para travar a construção de um aeroporto megalómano. A terra treme sob o sangue do jovem Rémi, assassinado em Outubro passado pela polícia francesa por defender a floresta contra a construção de uma mega-barragem, […]