A “nova” Fontinha

26 de Março de 2013
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Há dezenas de edifícios camarários abandonados, no Porto, mas não falta, na sua Câmara Municipal, um Gabinete de Arrumação e Estética do Espaço Público. O qual, depois de endireitar tampas de saneamento, se prepara para, com o apoio da Federação Académica do Porto, retirar da cidade tudo quanto for pintura feita por cidadãos. Ficam os painéis publicitários, fica a propaganda institucional e apaga-se a voz das pessoas num dos únicos locais onde ainda consegue ser audível: a parede.

Impõe-se a ideia da cidade como um lugar quase tão higiénico como um hospital, onde o tal gabinete é que decide o que é arte ou vandalismo e reafirma a legitimidade absurda de permitir a ocupação dos espaço públicos com publicidade de empresas privadas, ao mesmo tempo que destrói essa ocupação quando é feita pelos próprios habitantes.

Essa ideia aparece materializada na nova “Escola da Fontinha”, um local onde a cor deu lugar ao branco imaculado e onde as vozes das crianças e a liberdade de criação foram substituídas pela burocracia. A Rui Rio não importa tanto se serve a população local. Não importa até se, ao “oferecer” espaços a associações que já tinham sede própria, não parecerá um mau remendo para uma situação horrível. Importa-lhe, sim, sair por cima, não deixar que as pessoas que ocuparam aquele edifício, esquecido durante 5 anos, possam dizer que só elas davam vida à “Escola”.

A “Escola da Fontinha”, agora, chama-se Centro de Recursos Sociais do Porto e alberga associações da cidade que fazem algum tipo do trabalho a que se costuma chamar social 1. Foi visitada por Rui Rio, no passado dia 18 de Janeiro. Essa visita foi precedida por um aparato policial impressionante que acabou por ser responsável pelo aparecimento de meia dúzia de contestatários, a quem foi impedida a entrada nas instalações, mesmo depois da saída de Rio.

Há dezenas de edifícios camarários abandonados, no Porto. A “Escola da Fontinha” passou assim cinco anos da sua vida. Está renovada. A Biblioteca do Marquês já assim vive há praticamente uma dúzia de anos. Começa a ver a luz ao fundo do túnel. Há dezenas de edifícios camarários abandonados, no Porto. Aparentemente, os únicos que são retirados a essa condição são aqueles que as populações decidem ocupar.

 

Notes:

  1. A APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, a APOIARE – Associação Portuguesa para a Reeducação em Matéria de Endividamento, a ADDIM – Associação Democrática de Defesa dos Interesses e da Igualdade das Mulheres, a Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a SIDA”, o Espaço T – Associação para o Apoio à Integração Social e Comunitária e a APEE – Autismo, Associação de Pais e Encarregados de Educação de Alunos com Perturbação do Espetro do Autismo são as entidades que integram o Centro de Recursos Sociais do Porto.

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1 Comentário
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