Mais que uma luta no campo
“Eu faço parte das pessoas para quem o facto de que este projecto seja um aeroporto tem pouca importância (…). Esta é uma luta contra o sistema no qual o aeroporto se inscreve, poderia também ser a construção de uma central nuclear, uma prisão ou uma auto-estrada (…)”. « C’est vous les morts ! Ou pourquoi on a déjà beaucoup gagné ! » zad.nadir.org
O processo de luta em Notre Dame des Landes, contra a construção dum mega aeroporto, vai-se desenhando ao longo dos tempos e reflete as experiências dos seus habitantes. No entanto, atravessando a mutabilidade específica das circunstâncias e das etapas dum processo de resistência, fica a ideia de que aquilo que está em causa não é apenas a luta contra um aeroporto nem contra este em particular, e confirmamo-lo ao notar que em quase todos os textos publicados no website da ZAD (Zone-à-Defendre) se pode encontrar a frase: “Contra o aeroporto e o seu mundo”.
Existe, desde já, entre os indivíduos e os colectivos presentes no terreno, a consciência clara de que esta luta tem uma extensão muito maior do que a resistência à construção do Aeroport de le Grand Ouest, tendo em conta a dimensão e implicações de tal projecto, com os seus hotéis, os seus supermercados de luxo e hipermercados, o estilo de vida inerente ao avião, à rapidez, à eficiência e eficácia, à produtividade, à globalização. Um processo de destruição do território e a usurpação aos seus habitantes, justificado pelo valor económico do lucro, acima de qualquer outro.
Sob a alçada do desenvolvimento, justifica-se uma redefinição dos territórios, baseada no imperativo de satisfazer as necessidades de um alto nível de consumo global, alicerçado ao estilo de vida urbano e citadino. A partir da noção dos estragos inerentes a estes processos, encontra-se a necessidade em refletir sobre a importância das lutas em espaços rurais, tendo em conta que o território rural tornou-se cada vez mais uma periferia da metrópole e da sua máquina devoradora e insaciável. O campo não está isolado das dinâmicas de consumo e é território da sua expressão.
Neste sentido, a luta na Zad pode ser entendida como uma luta que reclama não apenas a reapropriação das matérias-primas e da terra em si mesma, como um lugar de experimentação de mecanismos de freio ao desenvolvimento sem sentido e ao mero desejo do capital.